O sempre próximo do extremo Marcos Prado
Nesta longa estrada da vida, em mil novecentos e noventa e tanto do século passado, caminhando pela selva escura de Curitiba, eu e o Marcos combinamos escrever um livro em parceria, Os Ultralíricos.
A idéia era atiçar ao máximo o nosso já incendiado romantismo e destilar de sangue, suor e lágrimas um punhado de textos que fariam o Casimiro de Abreu parecer um racionalista alemão.Mas a vida é sangria desatada, o corpo não acompanha a velocidade
da alma e o livro acabou ficando para outra.
Ficou para outra? Hoje vejo que não. Na verdade o essencial mesmo era aquele título, som sentido, conceito nu e cru, obra completa, síntese desossada de um (des)propósito que estava mais no existir do
que no escrever.
Mas não confunda: esse Ultralyrics, que agora você tem em suas mãos, é uma outra mesma coisa.
Ultralyrics é música além da letra e letra além da canção. Porque no ultralírico Marcos Prado a poesia tirou a música para dançar. Sempre próximo do extremo, sempre em direção à fronteira, Marcos Prado amou perdidamente a música e a poesia e para elas viveu fiel até a morte. Sempre em alta tensão emocional.
Ultralyrics rompe a arbitrária divisão feita pela crítica latifundiária, que tenta separar a rica (e menosprezada) letra de música da pobre
coitada (e mistificada) poesia. E, pode acreditar, Marcos Prado achava muito divertido bagunçar essa fronteira, contrabandeando oxigênio, passeando de um território a outro sem a menor cerimônia.
E é aí que reside a maior qualidade deste Ultralyrics, a de trazer um amplo e generoso painel de diversos períodos da obra desvairadamente variada de Marcos Prado, sem querer fazer distinção entre o que se lê e o que se canta. Estamos livres para, ao ler, escutar a sonoridade e, ao cantar, ver a poesia.
Chega, já falei demais. Prepare-se para o humor, a dor, o horror, o amor. Prepare-se para a farra e a coisa séria: Marcos Prado e seus
parceiros estão esperando para se apresentar.
Roberto Prado
Novembro de 2005