quarta-feira, dezembro 17, 2008

(Publicado no dia 16 de dezembro no blog do Fábio Campana)

Aniversário do Marcos Prado: parabéns para nós
Por Roberto Prado



Ontem, o poeta Marcos Prado completou seus 47 anos. Mas, quiseram os deuses e as musas da poesia que ele nos deixasse órfãos do seu incontrolável talento e contagiante alegria de viver na passagem do ano novo de 1996, não sem antes nos legar uma obra que resiste ao tempo sem perder aroma e sabor. Marcos Prado foi uma personalidade inquieta e um talento múltiplo que, mesmo com sua breve passagem entre nós, imprimiu sangue e vida no tantas vezes triste, oficialesco e provinciano ambiente cultural curitibano. Gregário por natureza, cercado de fiéis parceiros, ele fez parte de uma geração que, reunindo poetas, músicos, artistas gráficos e plásticos, cineastas, atores e afins, vem tentando, com as naturais dificuldades, tirar Curitiba de sua mórbida timidez, dando-lhe um ar mais moderno, alegre e cosmopolita. Para comprovar – e se deliciar - basta dar uma experimentada no belíssimo livro Ultralyrics, publicado pela Travessa dos Editores, que traz uma generosa seleção de diversas fases do poeta feita pelo diretor teatral e dramaturgo Felipe Hirsch. Além do livro, Ultralyrics permite ainda a luxuosa possibilidade de ler os textos enquanto escutamos o CD Aquelas canções do Marcos Prado, em performances estonteantes das bandas Beijo AA Força e Maxixe Machine. Parabéns para o Marcos Prado e, principalmente, para nós, que sobrevivemos para velar pelas boas energias deste mundo.

Clique no “Leia Mais” para ver dois presentes de aniversário do poeta.


(Presente 1)

passarinhos
piem na minha janela
façam uma serenata para mim esta noite
eu preparo as pipocas
e a mesa com frutas
vocês cantam e comem
eu bebo e danço

se a canção for triste
choramos todos juntos
se for alegre, barulho!
os vizinhos que se fodam

caso eles dindon
eu abro a porta: “entrem”
se não quiserem
cagamos na cabeça deles
e recomeçamos
na mesma nota

quando amanhecer, eu sei,
vocês têm trabalho
podem ir, mas já estão convidados
para a noite que vem
e podem trazer o resto da turma

(Presente 2)
Homem Remoto

a televisão carcomeu meu cérebro
assim como a vodca em outro episódio
por ela, espelho, virei vídeo
com ódio e áudio de mim mesmo

minha imagem paralisada, em foco
não tem controle pelo controle remoto
(só o bar Peixoto me faz sair da cama
curitibano tomando pinga com mel em copacabana)

vejo a tv como ela vê a mim, desconhecidos
enfim, como se vêem os íntimos antigos amigos
que não se falam, não se encontram e, sem pressa,
esperam, preferência, a ausência de si como festa